quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Do Riachão do Vinhático ao encontro do 3º. Permangola!

Bom dia meus queridos amigos!

Tenho um defeito. De vez em quando, desapareço sem deixar rasto. Porém como devem calcular, estou além, na chitaca, a cerca de vinte e cinco quilómetros de Valença, no Riachão do Vinhático - assim se chama o povoado onde me encontro e do qual coloquei algumas fotos no blog, assim como de alguns dos seus habitantes - onde a civilização ainda não chegou por completo. Ele é a falta de energia eléctrica, a falta de vias de comunicação, a falta de telefone, a falta de um posto médico, a falta de técnicos que ensinem a cultivar para o século XXI e não empiricamente como sempre fizeram. O pior de tudo é que há quem se diga técnico e continue a fazer buraquinhos com uma enxada, deitar para lá a semente e esperar que ela venha à luz do dia, cresça e produza. Maneiras de ser.

Espero bem que o actual prefeito de Valença, cumpra o que escreveu numa parede de uma das casas do Riachão do Vinhático na altura da campanha política para a prefeitura. A foto está no blog.

Engraçado! Quando alguns políticos desta cidade de Valença foram fazer um comício perto da chitaca, fui lá para ver. A pergunta não podia calar: como a Suzy está em Salvador é lógico que preciso de comunicar com ela senão todos os dias, pelo menos dia sim, dia não. Então perguntei para quando telefone naquela região. Ao que ele "amavelmente" me respondeu que já tinha colocado vários telefones por aquelas bandas (muitos não funcionam) e que não estava ali para ouvir um indivíduo que tinha vindo de um país miserável como Angola, que estava a ser ajudado pelo Brasil. A frase foi mais ou menos assim: não estou para ouvir "cigarrar" no meu ouvido... Não me atrevo a escrever o resto. A verdade é que abandonou o local com o seu séquito e ao entrar para o carro em que ali se deslocara, toda a gente pensou que a porta se tinha arrancado. Muita gente ficou estupefacta pela falta de educação de tão ilustre membro dum partido político candidato à prefeitura. Enfim, coisas que não se aprendem na escola.

Voltando à conversa inicial, de vez em quando desapareço. E entre 16 e 26 de Janeiro desapareci até da chitaca. Fui participar do 3º. Permangola. Para quem não saiba o Permangola é um encontro Internacional de praticantes de Capoeira Angola e de Agricultura orgânica e de subsistência. Permacultura, não é mais do que cultura permanente:

O que é Permacultura?

Permacultura é um método de design que objetiva desenvolver áreas humanas produtivas de forma sustentável, respeitando os ciclos e o equilíbrio natural dos ecossistemas naturais.
Os métodos para criar os espaços permaculturais são diversificados e apropriados para vários ecossistemas do mundo. E para utilizar as técnicas oferecidas pela Permacultura é essencial um método de design, onde a observação e o planejamento de uma área ocupada são os principais quesitos deste método. O emprego do design consiste em aplicar técnicas de aproveitamento de espaço, zoneamentos de acordo com a importância de cada sistema produtivo e a reciclagem do produto excedente produzido pelos elementos e seres vivos que compõe uma dada propriedade. Esse excedente energético é utilizado numa área complementar da propriedade, criando assim um local altamente produtivo e conectado entre si.
A permacultura é muito além do significado agricultura permanente, é um conjunto de práticas que criam soluções sustentáveis para suprir as necessidades essenciais humanas, como garantia de uma produção alimentar de qualidade, a captação e o uso responsável da água potável, a construção de edificações naturais para a moradia, o uso de energia elétrica através de fontes renováveis e limpas e a reciclagem de todo material considerado resíduo ou sobra de um sistema produtivo. Portanto a Permacultura faz o que o sistema convencional não consegue, produzir de forma intensa garantindo, quantidade, qualidade, variedade e o mais importante sem prejudicar os ecossistemas naturais ao qual esta metodologia de vida está completamente integrada.


http://www.ecocentro.org/pdc/permacultura.html

É graças a pessoas como Mestre Cobra Mansa, Mestre Lua, Mestre Valmir, pessoas como o Lenino, o Leandro, o Serelepe, o Luciano, o Cabello, o Scott, o Jorge Conceição, o Paulinho, o Dó, o Adalício, o Orlando, a Eliane a Isabel apenas por citar alguns e com as minhas desculpas para os que sempre ficam como ilustres desconhecidos, que se vão suprindo as faltas de conhecimento e acompanhamento por técnicos, ditos credenciados quer na agricultura, quer noutras actividades ligadas à mesma.

Aconteceu o Permangola. Particularmente agradeço ao Orlando, ao Roberto e à Mariinha pela preciosa ajuda que sempre me deram nas minhas pesquisas por plantas aromáticas e medicinais.

Agradeço ao Mestre Cobra Mansa pela oportunidade que me deu de poder acompanhar todo o encontro e aprender fazendo. Agradeço também a oportunidade que me deu de ser o orador da palestra: "Plantas Aromáticas e Medicinais". Acabou por ser uma palestra interactiva em que cada um acrescentava mais alguma coisa aos benefícios de determinada planta.

Engraçado era quando, ao falar de certa espécie com propriedades calmantes se aconselhava os homens para que não fizessem uso dela, alguém dizia que: ".../ora mãinha me dava tanto chá dessa planta com pão quando era piqueno.../". Foi a gargalhada geral! Coitado... Ficou horrorizado! Houve também um adolescente que, depois da palestra, chegou a casa ao pé da mãe e disse: ".../mãiiiiiiinha, eu não posso mais beber chá de cidreira; seu Manueu disse que se beber, vou brochá!.../"

A verdade é que, penso, todos gostaram de aprender um pouco mais sobre determinadas plantas existentes no Baixo Sul da Bahia.

E eu pensar que fui oferecer os meus serviços para a catalogação e registo fotográfico dessas plantas a um órgão municipal e nem sequer fizeram caso! Tadinhos!

Um agradecimento muito especial à minha "cara metade" pela paciência, dedicação e carinho.
Coisas de casal.

E se não aprenderam a letra da música cá vai ela. É uma canção de agradecimento em dialecto "umbundo". Cantavam-na no fim das colheitas, na chegada de uma pessoa amiga, no encerramento de alguma actividade mais importante como por exemplo o fim das aulas ou o regresso a casa dos contratados que tinham passado um ano (ou mais) na colheita do café por exemplo. A esse movimento de pessoas que aqui no Brasil é conhecido por "pau de arara" (até pela maneira como são transportados), em Angola era conhecido por: "monangambé". É assim:

Eny akuetu! (Ó gente!)
Tu yoleli! (Alegremo-nos!)
Permangola yetu, (O nosso Permangola,)
Yapossoca! (Foi optimo!)
Tuapandula! (Muito obrigado!)

E agora digo eu: Tuapandula t'xossi yovê! (Muito obrigado a vocês todos!)

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